2019 – Ano VIII

ANO VIII –Número 20
junho/2019

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“Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado.”

Emília Viotti da Costa

O dia 3 de setembro de 2018 amanheceu com a trágica notícia de um incêndio no Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista – Rio de Janeiro. Em seis horas o Brasil perdeu 90% de um acervo histórico de 200 anos, o maior da América Latina e o quinto maior do mundo. Talvez o item mais emblemático – ou mais conhecido – do acervo, que contava com mais de 20 milhões de peças e documentos, seja o fóssil de Luzia, a mulher mais antiga das Américas com mais de 11 mil anos. E que felizmente foi encontrado nos escombros e agora passa por uma cuidadosa restauração. Mas para além do crânio de Luzia, da reconstrução do esqueleto do Angaturama Limai, o maior dinossauro carnívoro brasileiro, do sarcófago da sacerdotisa Sha-amun-em-su, mumificada há 2.700 anos e presenteada a Dom Pedro II em 1876 e que nunca tinha sido aberto, para além das múmias egípcias e dos vasos gregos e etruscos, para além do maior conjunto de meteoritos da América Latina, o que se perdeu foi um trabalho de 200 anos; foi a carreira de cerca de 90 pesquisadores que dedicaram a sua vida profissional àquele espaço. O que se perdeu foi a possibilidade de produção de conhecimento que viria daquele centro de pesquisa, do material que foi perdido para as chamas. Perdemos, assim, parte significativa de nosso passado e também de nosso futuro.

Foi dolorido o amanhecer do dia 03 de setembro. Junto ao fogo que consumiu as paredes do Palácio de São Cristóvão vieram as lágrimas pelo descaso para com nosso patrimônio, pelos cortes orçamentários, pelo congelamento de investimento público em educação e cultura pelos próximos vinte anos, pela falta de água nos caminhões dos bombeiros, pelo estado de sucateamento de nossas instituições de ensino e pesquisa. Foi difícil dormir naquela noite, foi ainda mais difícil acordar no dia seguinte com aquele gosto de cinzas ainda roçando na garganta.

Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê?

Queremos que não seja esquecido. Queremos que possamos, enquanto sociedade, aprender com os erros que cometemos no passado. Um povo sem memória é um povo sem história, nos disse a historiadora Emília Viotti da Costa, e por isso no vigésimo número da Travessa em Três Tempos fazemos a proposta: SEJAMOS MEMÓRIA. Sejamos aqueles a lembrar do que perdemos e o faremos à nossa maneira, com palavras e possibilidades, com histórias e poesia e resistência. Porque cada um luta com as armas que tem e a nossa é a literatura.

Confira nosso 20° número: seremos memória

Com textos de: Juliana Maffeis, Gustavo Melo Czekster, Flávio Oliveira, Lamara Disconzi, Ednei Pedroso e Lucas Gelati.

Editoração: Andrezza Postay, Frederico Dollo Linardi, Davi Boaventura e Taiane Maria Bonita.

Projeto gráfico: Larissa Reis